já é quase domingo...

faltam 2 dias para o aguardado concerto dos The National na Aula Magna. é o concerto mais esperado por mim de sempre. ainda por cima não podia vir em melhor altura, numa fase f#dida da minha vida... estou mesmo a precisar disto... e de uma garrafa de bushmills...


no suplemento ípsilon desta semana, vem o seguinte texto, com o qual não podia estar mais de acordo:


"De "You know I dreamed about you/for twenty nine years before I saw" a "You know I dreamed about you/for twenty nine years before I saw" vai um lento espectáculo de minúsculas torturas, seis anos de intervalo, o tempo que dista entre o primeiro e homónimo disco dos The National (2001) e o quarto e mais recente, "Boxer" (2007). À décima primeira canção do disco de estreia lá está a frase supra-citada. E no último disco, em "Slow show", a frase retornava, como que completando um círculo: ao início eram aspirantes à decadência charmosa e praticavam uma quase folk; em 2007 tornaram-se adultos, emparedados pela idade e como nós no intestino, não muito felizes com o sucesso.

A mesma frase assume portanto diferentes significados: da primeira vez era uma exacerbação romântica, da segunda era a alegria possível na resignação estável. Da primeira vez dizia-se: és um milagre; da segunda diz-se: apesar de tudo sempre te desejei. Mas se "Boxer", com os seus pianos, as suas cordas macias, os seus metais de veludo, é o disco de quem está em casa a ver o cotão debaixo do tapete sabendo que tem de se levantar e limpá-lo, dois anos antes "Alligator" era o disco de quem arrasava apartamentos em festa constante.

Festa desesperada, diga-se: aquela festa desbragada de quem sabe que dentro em breve o corpo vai ceder, o fígado vai ceder, o cérebro vai ceder e não se vai aguentar a ressaca.

"Alligator" foi o disco da explosão: pejado de guitarras angulares e berraria de Matt Berninger (o vocalista e letrista de afiadíssima pena), era uma ponte entre o indie-rock explosivo e o sangue dos Tindersticks. Foi subindo devagar, passando pela net, por concertos de uma entrega abissal (e, vá lá, algum álcool), rumo à consagração que é ter um lugar privilegiado na vida de quem o ouviu, de quem se reviu nas bebedeiras, na culpa, na auto-ironia, nas tiradas espertas que escondem qualquer coisa de maligno. "I used to be carried on the arms of cheerleaders", berrava Berninger, "Karen, put me in a chair, fuck me and make me a drink", cantava Berninger - e isto é, só pode ser, um homem a gozar com a sua impotência.

Tal como o disco anterior, "Boxer" foi sendo recebido com indiferença, dizia-se que não havia ali dinamite, que era muito lento, que era muito calmo, muito isto, muito aquilo. E quando se deu por ela já era quase unanimemente considerado o melhor disco do quinteto. Desde os Tindersticks não havia ninguém que cantasse toda uma geração assim. Levam uma quase obra-prima ("Alligator") e uma obra-prima ponto final parágrafo travessão ("Boxer") e que lhes corra muito mal a vida, que tanta devoção que lhes prestam precisa de pelo menos mais um grande disco. No Domingo do Senhor, na Aula Magna, serão muitos a rezar cada uma das palavras de Berninger, a celebrar cada explosão das guitarras, a tropeçar em cada nota delicada do piano. Que voltem muitas vezes, porque, apesar de tudo, estivemos muitos anos à espera de quem nos cantasse assim."
João Bonifácio in Ípsilon

fica ainda a música que deu título ao nosso blog:
The National _ "Abel"

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